Professor gaúcho cria Web TV com os alunos do 9º ano para ensinar conteúdos de língua portuguesa
Mariana Mandelli
Em tempos de tablets e smartphones nas mãos de crianças de todas as idades, muito se fala sobre o uso da tecnologia a favor da Educação. No entanto, pouco se sabe sobre como tornar esse processo realmente efetivo na sala de aula. Apesar das dúvidas, há um consenso: não basta a escola dispor de computadores equipados, conexão banda larga e lousas digitais se não houver professores capacitados e um projeto pedagógico que faça uso dos recursos a favor da aprendizagem. No seleto grupo de colégios que aprenderam a ensinar usando o digital como recurso está a Escola Municipal de Ensino Fundamental Borges de Medeiros, em Campo Bom (RS). E, dentro dela, destaca-se o trabalho do professor de língua portuguesa Jorge Cesar Barboza Coelho, de 25 anos, autor do projeto CBB Web TV.
Trabalhando com os alunos no ritmo de uma redação de TV, o professor explora os diversos gêneros jornalísticos, como a notícia, a entrevista, a opinião e a crônica, tanto na linguagem escrita como na oral. As reportagens são produzidas pelos alunos e tratam de temas de interesse da comunidade escolar.
Com a proposta, que contou com suporte da Secretaria Municipal de Educação e Cultura , Jorge foi um dos dez ganhadores do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 de 2012, concedido anualmente pela Fundação Victor Civita (leia mais aqui). O trabalho também esteve entre os vencedores da 6ª edição do Prêmio Professores do Brasil, iniciativa do Ministério da Educação (MEC). E, em 2011, venceu a etapa nacional do Prêmio Educadores Inovadores da Microsoft e representou o Brasil na seletiva internacional, em Washington (EUA).
Início
“A escolha do jornalismo como tema para os conteúdos de língua portuguesa se deve ao dinamismo da profissão”, explica o professor, que levou a turma para conhecer redações de jornais diários. “Trabalha-se linguagem, habilidades de expressão e escrita. É uma força-tarefa quase militar”, brinca.
As pautas são diversas e os alunos produzem material gravado e coberturas em tempo real de eventos e acontecimentos locais. Os conteúdos são veiculados na forma de reportagens, entrevistas e documentários, nos quais Jorge consegue explorar diversos gêneros textuais.
Organização
A redação digital da CBB Web TV é organizada em grupos de trabalho, que se responsabilizam pelos diversos processos de produção e veiculação dos conteúdos. No site, além dos vídeos, são publicados também textos e fotografias. Hoje, também são produzidos novelas e programas de variedades. Em 2011, o projeto evoluiu e a grade foi organizada em diversos canais: o CBB News, o CBB Live, o CBB Defender (sobre bullying) e o CBB Sports.
Os encontros de Jorge com a turma ocorrem dentro e fora do horário de aula. Desde o início do projeto, 800 alunos já passaram pela redação da CBB Web TV. A programação é mantida por uma equipe fixa, de 20 alunos de toda a escola, especialmente do 8º e 9º anos. Os demais participam, de maneira temporária, conforme os assuntos de interesse. Dessa forma, a TV conta com a colaboração de alunos de 10 a 15 anos – além de estudantes convidados de outras escolas.
“Não precisa entrar para ficar na frente da câmera, por exemplo. Há diversas funções e cada um acaba se encontrando dentro do projeto. Eles se envolvem. Os jovens gostam muito de áudio e vídeo por natureza e a Web TV é uma forma de canalizar esse interesse para fins educativos”, afirma Jorge. “Claro que aparecem aqueles que gravam um programa para melhorar as notas e depois somem. Mas muitos descobrem habilidades que jamais imaginavam ter.”
Etapas
O trabalho na CBB Web TV é organizado em duas grandes etapas: a criação das reportagens e a cobertura em tempo real de eventos. A primeira compreende, nesta ordem: a definição da pauta e do formato; a elaboração e a publicação do texto; a avaliação do texto publicado; a elaboração e a publicação da reportagem em vídeo e, por fim, a avaliação do material audiovisual. Tudo é discutido em grupo e há bastante pesquisa para a apuração das notícias. De acordo com a pauta, os alunos fotografam, gravam imagens e passagens dos repórteres, fazem a redação e a edição de textos e a edição das reportagens em vídeo. Ferramentas digitais para armazenamento e compartilhamento de arquivos na nuvem, bem como as redes sociais também são frequentemente utilizados pelos alunos no processo de produção.
O trabalho de cobertura em tempo real exige um planejamento ainda mais detalhado. O evento precisa ser estudado, é feito um contato prévio com os organizadores, monta-se uma mini-redação no local, entrevistas são agendadas e não podem falhar. Os alunos devem preparar as perguntas que farão aos entrevistados e também ler e responder aos comentários e mensagens deixadas pelo público no site. A captação das imagens é feita com câmeras ou com celulares. Os eventos também são fotografados e, por fim, todo o processo e resultados são avaliados pelo grupo.
“É curioso observar os alunos em ação, porque eles ficam imersos. Alguns se esquecem até de ir ao banheiro, de beber água e de descansar quando estão numa cobertura ao vivo”, diverte-se Jorge. “Muitos já estão ‘famosos’ até em cidades vizinhas – são reconhecidos na rua.”
Envolvimento
O grande diferencial do projeto é que, segundo o professor, trabalhar os conteúdos obrigatórios de língua portuguesa em outras linguagens, ultrapassando o texto escrito e chegando aos elementos audiovisuais – o que atrai muito mais os adolescentes. “Aquela ideia da aula chata, que desmotiva, pode mudar com um projeto que prenda a atenção dos alunos”, afirma Jorge. Segundo ele, o desafio de transpor o estudo de conteúdos linguísticos para o âmbito midiático trabalha com o texto escrito e a linguagem oral, passando pela norma culta, o uso de estrangeirismos, os modos de contar uma história e de organizar o discurso. “Pensar no público-alvo na hora de redigir um texto para diferentes mídias é um grande exercício”, afirma. “Além disso, as pautas ajudam os alunos a pensar de forma interdisciplinar, já que temas relativos a outras disciplinas são abordados.”
O docente destaca ainda que o projeto contou com a intensa participação das famílias e da coordenação pedagógica. “As pautas e os temas tratados na TV fazem sentido, o que envolveu bastante todo mundo, dentro e fora de sala de aula”, afirma Jorge. “O projeto não é só da escola – apenas seu quartel-general fica lá. Trabalhamos mais na rua do que no colégio.”
A forte interação entre todos os atores do projeto é um dos principais pilares do trabalho colaborativo da Web TV. “Além de criar consciência social, já que os alunos participaram de ações de solidariedade e de trabalhos voluntários durante o projeto, eles também exercitam o trabalho em grupo, a autoria e a colaboração em equipe”, lembra Jorge. “Hoje, a cidade enxerga a Educação e a escola de forma diferente e isso se deve ao fato de o projeto não ser uma ação isolada, mas sim integradora.”
Experiência
Jorge é formado em Letras pela Unisinos e tem especialização em mídias na Educação. Todos os dias, viaja 45 minutos para Campo Bom para lecionar. “Vou porque sei que a cidade tem toda a estrutura para eu dar uma boa aula. Isso me motiva”, conta. “Não é só colocar computador na escola.”
Para ver um vídeo sobre o projeto de Jorge, clique aqui. Para acessar o blog da CBB TV, clique aqui.
Mariana Mandelli
Em tempos de tablets e smartphones nas mãos de crianças de todas as idades, muito se fala sobre o uso da tecnologia a favor da Educação. No entanto, pouco se sabe sobre como tornar esse processo realmente efetivo na sala de aula. Apesar das dúvidas, há um consenso: não basta a escola dispor de computadores equipados, conexão banda larga e lousas digitais se não houver professores capacitados e um projeto pedagógico que faça uso dos recursos a favor da aprendizagem. No seleto grupo de colégios que aprenderam a ensinar usando o digital como recurso está a Escola Municipal de Ensino Fundamental Borges de Medeiros, em Campo Bom (RS). E, dentro dela, destaca-se o trabalho do professor de língua portuguesa Jorge Cesar Barboza Coelho, de 25 anos, autor do projeto CBB Web TV.
Trabalhando com os alunos no ritmo de uma redação de TV, o professor explora os diversos gêneros jornalísticos, como a notícia, a entrevista, a opinião e a crônica, tanto na linguagem escrita como na oral. As reportagens são produzidas pelos alunos e tratam de temas de interesse da comunidade escolar.
Com a proposta, que contou com suporte da Secretaria Municipal de Educação e Cultura , Jorge foi um dos dez ganhadores do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 de 2012, concedido anualmente pela Fundação Victor Civita (leia mais aqui). O trabalho também esteve entre os vencedores da 6ª edição do Prêmio Professores do Brasil, iniciativa do Ministério da Educação (MEC). E, em 2011, venceu a etapa nacional do Prêmio Educadores Inovadores da Microsoft e representou o Brasil na seletiva internacional, em Washington (EUA).
Início
“A escolha do jornalismo como tema para os conteúdos de língua portuguesa se deve ao dinamismo da profissão”, explica o professor, que levou a turma para conhecer redações de jornais diários. “Trabalha-se linguagem, habilidades de expressão e escrita. É uma força-tarefa quase militar”, brinca.
As pautas são diversas e os alunos produzem material gravado e coberturas em tempo real de eventos e acontecimentos locais. Os conteúdos são veiculados na forma de reportagens, entrevistas e documentários, nos quais Jorge consegue explorar diversos gêneros textuais.
Organização
A redação digital da CBB Web TV é organizada em grupos de trabalho, que se responsabilizam pelos diversos processos de produção e veiculação dos conteúdos. No site, além dos vídeos, são publicados também textos e fotografias. Hoje, também são produzidos novelas e programas de variedades. Em 2011, o projeto evoluiu e a grade foi organizada em diversos canais: o CBB News, o CBB Live, o CBB Defender (sobre bullying) e o CBB Sports.
Os encontros de Jorge com a turma ocorrem dentro e fora do horário de aula. Desde o início do projeto, 800 alunos já passaram pela redação da CBB Web TV. A programação é mantida por uma equipe fixa, de 20 alunos de toda a escola, especialmente do 8º e 9º anos. Os demais participam, de maneira temporária, conforme os assuntos de interesse. Dessa forma, a TV conta com a colaboração de alunos de 10 a 15 anos – além de estudantes convidados de outras escolas.
“Não precisa entrar para ficar na frente da câmera, por exemplo. Há diversas funções e cada um acaba se encontrando dentro do projeto. Eles se envolvem. Os jovens gostam muito de áudio e vídeo por natureza e a Web TV é uma forma de canalizar esse interesse para fins educativos”, afirma Jorge. “Claro que aparecem aqueles que gravam um programa para melhorar as notas e depois somem. Mas muitos descobrem habilidades que jamais imaginavam ter.”
Etapas
O trabalho na CBB Web TV é organizado em duas grandes etapas: a criação das reportagens e a cobertura em tempo real de eventos. A primeira compreende, nesta ordem: a definição da pauta e do formato; a elaboração e a publicação do texto; a avaliação do texto publicado; a elaboração e a publicação da reportagem em vídeo e, por fim, a avaliação do material audiovisual. Tudo é discutido em grupo e há bastante pesquisa para a apuração das notícias. De acordo com a pauta, os alunos fotografam, gravam imagens e passagens dos repórteres, fazem a redação e a edição de textos e a edição das reportagens em vídeo. Ferramentas digitais para armazenamento e compartilhamento de arquivos na nuvem, bem como as redes sociais também são frequentemente utilizados pelos alunos no processo de produção.
O trabalho de cobertura em tempo real exige um planejamento ainda mais detalhado. O evento precisa ser estudado, é feito um contato prévio com os organizadores, monta-se uma mini-redação no local, entrevistas são agendadas e não podem falhar. Os alunos devem preparar as perguntas que farão aos entrevistados e também ler e responder aos comentários e mensagens deixadas pelo público no site. A captação das imagens é feita com câmeras ou com celulares. Os eventos também são fotografados e, por fim, todo o processo e resultados são avaliados pelo grupo.
“É curioso observar os alunos em ação, porque eles ficam imersos. Alguns se esquecem até de ir ao banheiro, de beber água e de descansar quando estão numa cobertura ao vivo”, diverte-se Jorge. “Muitos já estão ‘famosos’ até em cidades vizinhas – são reconhecidos na rua.”
Envolvimento
O grande diferencial do projeto é que, segundo o professor, trabalhar os conteúdos obrigatórios de língua portuguesa em outras linguagens, ultrapassando o texto escrito e chegando aos elementos audiovisuais – o que atrai muito mais os adolescentes. “Aquela ideia da aula chata, que desmotiva, pode mudar com um projeto que prenda a atenção dos alunos”, afirma Jorge. Segundo ele, o desafio de transpor o estudo de conteúdos linguísticos para o âmbito midiático trabalha com o texto escrito e a linguagem oral, passando pela norma culta, o uso de estrangeirismos, os modos de contar uma história e de organizar o discurso. “Pensar no público-alvo na hora de redigir um texto para diferentes mídias é um grande exercício”, afirma. “Além disso, as pautas ajudam os alunos a pensar de forma interdisciplinar, já que temas relativos a outras disciplinas são abordados.”
O docente destaca ainda que o projeto contou com a intensa participação das famílias e da coordenação pedagógica. “As pautas e os temas tratados na TV fazem sentido, o que envolveu bastante todo mundo, dentro e fora de sala de aula”, afirma Jorge. “O projeto não é só da escola – apenas seu quartel-general fica lá. Trabalhamos mais na rua do que no colégio.”
A forte interação entre todos os atores do projeto é um dos principais pilares do trabalho colaborativo da Web TV. “Além de criar consciência social, já que os alunos participaram de ações de solidariedade e de trabalhos voluntários durante o projeto, eles também exercitam o trabalho em grupo, a autoria e a colaboração em equipe”, lembra Jorge. “Hoje, a cidade enxerga a Educação e a escola de forma diferente e isso se deve ao fato de o projeto não ser uma ação isolada, mas sim integradora.”
Experiência
Jorge é formado em Letras pela Unisinos e tem especialização em mídias na Educação. Todos os dias, viaja 45 minutos para Campo Bom para lecionar. “Vou porque sei que a cidade tem toda a estrutura para eu dar uma boa aula. Isso me motiva”, conta. “Não é só colocar computador na escola.”
Para ver um vídeo sobre o projeto de Jorge, clique aqui. Para acessar o blog da CBB TV, clique aqui.
Extraído de
Todos pela Educação
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